Injustiçados: Jogadores que mereciam ir para a Copa e não foram

Muitos jogadores tem jogar a Copa do Mundo como um grande sonho. Evidentemente muitos não tiveram a chance. Alguns deles mereciam. Vamos falar sobre os brasileiros que mereciam ir e não foram, os injustiçados.

Alex- Copa de 2006

Com 48 jogos e 12 gols, é o jogador quem mais esteve na Seleção sem jogar uma Copa do Mundo. Em parte da sua carreira carregou o apelido de Alexotan. Era um trocadilho com um remédio para dormir, por sua fama de desaparecer em campo, com grandes atuações e outras nem tanto. Participou da Seleção entre 98 e 2005, sendo campeão da Copa América de 99 e 2004. Na segunda foi capitão. Disputou a Olimpíada de 2000. Passou seus melhores anos na Turquia, onde há uma estátua dele. Naquela época jogadores do Leste Europeu eram muito esquecidos. Com isso perdemos um grande jogador para nossas Copas. Ao contrário do que tantos afirmam, a Copa dele deveria ser a de 2006, não 2002. Teve todas as chances de se destacar em 2002, mas não se saiu melhor do que Djalminha, Zinho ou Marcelinho Paraíba. Porém foi melhor do que Ricardinho, convocado no lugar do lesionado Émerson. Em 2003 foi o melhor jogador do Cruzeiro campeão de tudo no Brasil. E é o jogador que fez mais partidas pela seleção sem nenhuma participação em Copa. Poderia também ter ido em 2010.

Uma excelente seleção. Porém, vários outros craques também mereciam estar na foto.

Djalminha - Copas de 98 e 2002

Excelente jogador do Palmeiras, Flamengo e Deportivo La Coruña, teve a merecida fama de encrenqueiro e a não merecida de craque celular; aquele que quando precisar vai estar sem funcionar ou fora da área. Batedor de faltas e lançador de nível geracional, ótimo também nos dribles tinha tudo para ir para a Copa de 2002, mas a polêmica em que deu uma cabeçada no seu treinador o afastou da seleção. Não teve uma sequência para mostrar seu talento antes da Copa de 98. Excelente visão de jogo, só não foi campeão pelo Guarani. E ainda teve retrospecto positivo contra Barça e Real jogando no Deportivo que foi pela primeira e única vez campeão espanhol enquanto esteve lá. 

Djalma Dias e Dirceu Lopes - Copa de 70

Pai do Djalminha, era o titular de João Saldanha. Com a troca de técnico, foi deixado de lado por Zagallo, que preferiu Piazza, volante do Cruzeiro, improvisado na posição, que foi muito bem na Copa. Já Zagallo.... é considerado um dos melhores treinadores da História, justamente por conta dessa seleção. Porém, Fontana, zagueiro do Cruzeiro e reserva de Piazza na Copa , era bem inferior a Djalma Dias. Também poderia ter ido em 1962, mas era jovem demais, perdendo vaga para Bellini. Em 1966, perdeu vaga de novo para Bellini, já claramente em pior fase e em final de carreira. Essa ocasião já é inexplicável e uma demonstração da bagunça que foi a organização daquela Copa.

Dirceu Lopes foi um dos maiores jogadores da história do Cruzeiro e era outro que iria para a Copa de 70 e não foi por conta da troca do técnico. Zagallo fez um grande trabalho fazendo com que o time titular encaixasse seus melhores jogadores, porém o banco de reservas teve que deixar alguns jogadores de altíssimo nível de fora. Segundo a revista Placar, Dirceu Lopes era o melhor jogador da sua posição em 1970. Era o camisa 10 do Cruzeiro, o ponta de lança, posição onde na seleção já havia outros grandes jogadores. Só para ficar nos que foram titulares, Pelé, Rivellino, Jairzinho. Uma pena, porque alguém teria que ficar de fora. 

Sem Dirceu Lopes e Djalma Dias

Marcelinho Carioca - Copas de 94,98 e 2002

Segundo o próprio, deveria estar em 94 e 98, mas seria o titular em 2002. Meia direita destro, em uma geração onde os grandes meias brasileiros na sua maioria eram canhotos, poderia ter jogado mesmo essas três copas. E era superior a Juninho Paulista, que começou 2002 como titular, mas perdeu a vaga no mata-mata por questão de segurança defensivo. Marcelinho tinha como grande qualidade suas cobranças de falta e lançamentos, mas também era um meia rápido e de grande visão de jogo. Muitos comentaristas o definiam como uma outra versão do David Beckham, com melhor chute e pior marcação. Em grande parte não foi para a Copa por conta de seus problemas de relacionamento em grupos.

Antonio Carlos, Serginho e  Mancini

Não é sem motivo que dizem que a seleção teve gerações melhores do que a atual. Esses três craques poderiam ter jogado a Copa de 2002
  1. Serginho, lateral completo do Milan, bicampeão da Liga dos Campeões, passou anos sendo ignorado pela seleção. Em algumas ocasiões até era convocado, mas nunca compos elenco e só tapava buracos. Então pediu para não ir mais. Se era pra ficar assim melhor descansar ou auxiliar seu tipe, que pagava seus salários. Foi de alto nível regularmente por cerca de dez anos. A concorrência da época era com Roberto Carlos , Júnior, Athirson, Felipe.... Se dizia na época que não havia vaga mais disputada que a lateral esquerda reserva. Poderia ter jogado em 2006 também.
  2. Mancini, lateral de excelente velocidade, resistência física e chute, chegou a ser artilheiro do campeonato mineiro. Fez 13 gols no Campeonato Brasileiro de 2002, em 25 jogos. Essa média de mais de um gol a cada dois jogos raramente é atingida pelos artilheiros do Brasileirão. O artilheiro de 2016 teve 14 gols em 38 jogos. Mancini também teve grande carreira na Itália, porém não superou a concorrência de Cafu e Cicinho pela seleção. Poderia ter jogado também em 2006. Em 2002 foi deixado de lado por conta de Belletti.  
  3. Antônio Carlos foi convocado para a seleção por dez anos. Campeão brasileiro pelo Palmeiras, São Paulo e Santos, e paulista pelo Corinthians. Zagueiro de grande técnica e tempo de bola, já foi artilheiro do campeonato sul-mato-grossense. Poderia ter jogado também em 94 e 98. 
Canhoteiro - Copa de 58

Não fez esforços para ir para a seleção de 58. Quem conheceu chamava de Garrincha da ponta-esquerda. Conhecido pelas embaixadinhas com laranjas, extrema habilidade e velocidade, não fazia muitos gols, sendo mais um passador. Naquela Copa foram Pepe, que tinha chute melhor e menos habilidade, e Zagallo, que tinha muito mais resistência e defendia melhor. Zagallo foi um revolucionário em campo. Até 58 os pontas eram ou dribladores que cruzavam, como Canhoteiro, ou artilheiros como Pepe.O Brasil não seria campeão em um time com Canhoteiro e Garrincha, por motivos táticos. A defesa não suportaria tantos atacantes puros.  

Seleção de 1958. E ainda faltou craque

Evaristo de Macedo - Copas de 58 e 62

No jogo Brasil 9 X 0 Colômbia, Evaristo fez cinco, recorde de gols em um jogo pela seleção brasileira. Até a Copa de 62, os jogadores representavam o país dos seus clubes. Assim, duas vezes não pôde participar da seleção .Porém foi ídolo do Barcelona e Real Madrid. Poderia ser facilmente titular nas copas de 58 e 62, já que sempre teve mais resultados do que o centroavante titular Vavá. Quase sempre é colocado como nosso melhor jogador a nunca ter ido para uma Copa. Apesar de estar como um injustiçado, oficialmente está mais para um azarado.

Heleno de Freitas  - Copa de 50

Há estudiosos que dizem que nunca houve uma linha de ataque como a da Copa América(na época Campeonato Sul-Americano) de 1946, com Jair Rosa Pinto, Ademir, Tesourinha, Zizinho e Heleno de Freitas. Leônidas da Silva foi seu reserva nesse ano. Em 1949, com um ataque com Friaça (muito inferior) no lugar de Heleno de Freitas, o Brasil teve o melhor ataque da história desse campeonato, com 39 gols em 7 jogos, médias de 5,57. Apesar disso, não se convocou Heleno para a Copa de 50. Seu hábito de criar confusões em campo, violência com adversários e problemas com companheiros de grupo já eram bem conhecidas. Em grande parte isso aconteceu por conta de sífilis, DST conhecida por causar danos cerebrais. Usar drogas também não foi uma grande ajuda. Mas ninguém discorda do seu altíssimo talento. Utilizava bem seus dois pés e a cabeça. 

Cláudio, Tesourinha e Oberdan Cattani - Copa de 50
  1. Tesourinha, um dos maiores jogadores da história do Internacional, e primeiro negro no Inter e Grêmio, estava machucado na Copa de 50. Além disso, assim como Heleno de Freitas não teve a oportunidade de jogar em 46, porque não houve Copa do Mundo na década de 40. Uma pena inclusive para o Brasil No seu lugar foi Chico, bem inferior a ele. Oficialmente, outro azarado.
  2. Cláudio, maior artilheiro da história do Corinthians, com 305 gols em 550 jogos, uma média altíssima para um ponta direita. Foi reserva na Copa América de 49. Apesar do ponta titular se contundir, o técnico preferiu improvisar um lateral direito como reserva, em uma época em que os laterais nunca ultrapassavam a linha de meio de campo. E era muito superior a Chico. Ainda hoje se fala que a sua convocação aconteceu em grande parte por clubismo. Ele era do  Vasco, equipe que Flávio Costa dirigia ao mesmo tempo que dirigiu a seleção. 
  3. Oberdan Cattani, Grande goleiro do Palmeiras , um dos poucos a receber um busto no clube. Fazendo o revisionismo histórico, foi um goleiro inferior na carreira ao reserva Castilho (em começo de carreira), e superior ao titular Barbosa. Porém ainda assim merecia a vaga em 1950, por estar em melhor fase do que Castilho. O técnico Flávio Costa foi bem conhecido pelo seu bairrismo, convocando cariocas sempre que possível. Se foi merecido é outra questão.
Seleção de 1950
Barbosa, Augusto, Danilo, Juvenal, Bauer e Bigode.
Johnson (massagista) Friaça, Zizinho, Ademir, Jair, Chico e Mário Américo (massagista).
Fonte da imagem:https://medium.com/sem-firulas/o-7-a-1-da-copa-de-1950-d7d025fdb209

Friedenreich e Feitiço- Copa de 30

O melhor jogador brasileiro do período amador (até 1933). Foi o maior artilheiro brasileiro até o 1964, quando Pelé o ultrapassou. Fried quando se aposentou era o maior artilheiro mundial da história. Não jogou a Copa de 1930 porque houve um boicote dos jogadores paulistas à Seleção por conta da comissão técnica toda ser carioca. Com isso a seleção possui apenas jogadores do Rio, uma grande baixa. Friedenreich foi artilheiro da Copa América de 1919 e campeão em 19 e 22. Fez 557 gols oficiais. Quinto maior jogador do Brasil segundo a IFFHS. 

Outro que poderia muito bem ter ido era Feitiço. Maior artilheiro de uma única edição do Campeonato Paulista com 39 em 1931, até Pelé fazer 58 em 1958.  Artilheiro seis vezes do Paulista, entre 1923 e 1925 e 1929 e 1931, fez mais de 400 gols na carreira. Fez parte do melhor ataque de uma equipe em Campeonato oficial no Brasil, com 100 gols em 16 jogos, média de 6,25. Ainda hoje é o quinto maior artilheiro do Santos, mas em média é o primeiro, com 1,43 gol por jogo. Artilheiro é um apelido dado a ele, quando jogou no Uruguai. 
Arthur Friedenreich, maior jogador da Era Amadora do Brasil

Além desses jogadores, outros também não tiveram a chance, apesar de não ser uma injustiça unânime. Não   atingiram nível tão alto quanto os anteriores.
  1. Amoroso foi o melhor jogador do campeonato alemão de 2002, ano do Penta. Artilheiro do campeonato italiano de 99 (único artilheiro na Itália, Brasil e Alemanha) foi titular da Copa América de 99. Poderia estar em 98 ou 2002. 
  2. Élber. Campeão da Liga dos Campeões em 2001, fez 7 gols em 15 jogos antes da Copa de 98. Poderia também ter jogado em 2002. O maior artilheiro estrangeiro do Bayern de Munique. Seria um bom reserva do Ronaldo.
  3. Diego. Campeão brasileiro mais jovem da história, aos 17 anos. Foi campeão mundial em 2004 pelo Porto, e da Libertadores no mesmo ano, pelo Santos. Teve uma boa carreira europeia, sendo eleito melhor jogador na Alemanha em 2007. Campeão da Copa América de 2004 e 2007, poderia ter jogado as Copas de 2006, 2010 e até 2014, ano em que foi vice da Liga dos Campeões, pelo Atlético de Madrid. 
  4. Quarentinha. Maior artilheiro da história do Botafogo, fez 17 gols em 17 jogos pela seleção. Mas tinha um perfil muito discreto. Teve nível mais alto do que Amarildo, campeão em 62. Porém era centroavante, posição em que já havia Vavá e Coutinho. Poderia também ter ido em 58. O nível era muito alto, então alguém teria que ficar de fora.
Um padrão pode ser observado. As seleções com os melhores resultados foram justamente as que mais teve jogadores que mereciam ir e não foram. As cinco vencedoras e as duas vices. O que isso significa? O simples. Bons jogadores formam bons times. Também que ser um craque não significa necessariamente um bom encaixe com os outros. Por último, que talvez ainda ser feito o desperdício de um ótimo jogador e ter um bom resultado significa margem de erro para o técnico, ou um técnico excelente que sabia o melhor para seu time.

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