Jogar mal e perder ou jogar bem e ganhar?

Perder como em 82 ou vencer como em 94? Essa é uma pergunta comum, como se fosse impossível jogar bem e ganhar, como em 58,62,70 e 2002. Porém, mesmo em 94 a seleção não jogou tão mal nem tão defensivamente como se diz. Os dois laterais avançavam bem, Aldair foi ao ataque em um momento importante nas quartas de final contra a Holanda. O Brasil tinha dois grandes craques jogando em altíssimo nível (Romário e Bebeto ) e a Espanha jogava em um estilo parecido e foi considerado um futebol arte em 2010. Posse de bola e pragmatismo, se mantendo fiel ao estilo de jogo esperando a oportunidade de fazer o gol. Adicione muitos passes e teremos o tiki-taka. Em 94 o Brasil foi reconhecido como o melhor time do mundial por muitos.

Em 82 o Brasil não perdeu para um time ruim. A Itália tinha Scirea, um líbero com muita habilidade, que subia muito para o ataque e armava o jogo com constância e qualidade. Paolo Rossi era muito melhor que Serginho Chulapa, conhecido muito mais pelo físico e oportunismo do que pela qualidade de seu jogo em si. Cabrini era um lateral esquerdo que subia muito ao ataque, em um período em que o esquema tático italiano era "torto", ou assimétrico. Tardelli também era um grande jogador, além do goleiro Dino Zoff e o zagueiro Bergomi. Não foi um absurdo a perda daquele jogo ou só e simplesmente excesso de inocência, como pode ver aqui. A Itália não jogou ganhando mal. 

A seleção torta, desalinhada para a esquerda.

É muito mais fácil ganhar jogando bem que jogando mal. Poucos sãos os campeões sem ter o melhor time e quando acontece já temos o nome de zebra. A Grécia campeã de 2004 é exceção. A Alemanha campeã de 54 também. E saber se defender bem não é simplesmente jogar mal. É saber liberar seus bons jogadores para o que fazem de melhor. Em 2002 a Seleção Brasileira teve um esquema de três zagueiros que fez com que Roberto Carlos e Cafu jogassem como nunca naquela Copa. Em 98, com um time muito mais ofensivo, não só eles não jogaram tão bem como Rivaldo teve um campeonato em nível menor na França e Ronaldo só foi artilheiro em 2002. Jogar bem é o melhor meio de se vencer. Mesmo que não seja garantido, faz com que o time fique com o nome na história. Afinal, se fala muito mais da Hungria de 54 do que do Uruguai de 50 ou da Alemanha que venceu a mesma Copa de 54.

Ocasiões em que se jogou bem e ganhou são bem mais fáceis de encontrar. Quase todas as Copas do Mundo foi vencida pelo melhor time. Sobre as em que não há unanimidade: Em 1934 Itália e Áustria tinham equipes semelhantes, mas a Copa foi na Itália. Em 50 o Brasil perdeu um jogo para uma seleção não muito inferior por falhas na cobertura da zaga. O chute foi defendido por Barbosa da melhor maneira possível, com base em como usualmente jogadores chutam daquela posição. Em 54 há uma fortíssima suspeita de doping pela Alemanha, mas realmente o melhor não venceu naquele ano. Em 1966 a Inglaterra era o país sede e se não tinham os melhores jogadores tinham os melhores juízes e o melhor esquema tático.

Em 74 a Alemanha tinha um time de nível excelente e qualquer um poderia ter vencido aquele jogo. 82 já foi comentado. Em 90 a Itália perdeu para a Argentina nos pênaltis.  Em 2006 se olha para o Brasil e não entende como perdeu a Copa, mas é fácil responder, falta de foco e falhas defensivas. Dois centroavantes é um desequilíbrio tático em um período em que Robinho estava melhor que Adriano. Cicinho defendia melhor que Cafu e tinha mais fôlego, entre outras falhas. Oito de 21 Copas tiveram que ser "explicadas." E vários desses foram simplesmente a explicação básica de que em um jogo pode acontecer tudo e sedes costumam ter vantagens. 

O quadrado mágico não daria certo para a Placar de
maio de 2006 

Mas, ainda não foi respondida a pergunta. Jogar bem e perder ou jogar bem e ganhar? Se for escolher como treinador ou jogador, jogar bem. A chance de vitória é muito maior e mesmo a derrota não impede do time ser lembrado. Ou dos seus membros terem oportunidades melhores em outras equipes. Jogar mal e ganhar é sempre um time que pode ser lembrado como uma injustiça do futebol. Ninguém da Grécia de 2004 ganhou fama internacional ou fez grande carreira após esse jogo, mas vários jogadores de Portugal, vice daquela Eurocopa tiveram. É mais fácil defender do que atacar e impedir o jogo alheio do que jogar o seu próprio. Porém, usualmente só se faz isso quando se é inferior. E ninguém quer mostrar o tempo todo como é inferior.

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