Messi e Cristiano Ronaldo batem recorde de Pelé. O que isso significa?

Messi bateu o recorde de gols por um só time que era do Pelé. Dia 22/12/2020 fez seu gol 644 sobre o Valladolid. Na ocasião boa parte da imprensa fez muita questão de dizer que o recorde batido foi de gols oficiais . Pelé está muito a frente quando se consideram também os gols em amistosos, valiam muito mais do que valem hoje. E que um gol no Real Madrid de Puskas e Di Stefano vale muito mais que gols sem importância no Granada, bem, da Espanha e Andaluzia. Vamos ver aqui o quanto esses argumentos são válidos e alguns outros que não foram colocados na discussão.

Pelé jogava contra pedreiros e fazendeiros. Messi só contra profissionais

Sempre me perguntei por quê pedreiros e fazendeiros. Serventes não poderiam jogar? Ou eletricistas e carpinteiros? Já estão juntos na obra mesmo, o entrosamento seria bem melhor. Essa é a mais fácil de responder. Não, Pelé não jogava contra pedreiros e fazendeiros. O futebol brasileiro se profissionalizou em 1933 e para jogar em qualquer divisão do Campeonato Paulista era necessário ser profissional. Alguns amistosos de fato foram contra times semi-amadores ou até amadores mesmo. Por exemplo, seus gols contra a a Seleção de Ilhéus (pelo Santos), e o time da Guarda de Docas de Santos, esse quando Pelé jogava pelo exército. Mas todos os jogos oficiais do Pelé foram contra jogadores profissionais. Não ganhavam a fortuna que ganham hoje, mas todos tinham o jogo como principal fonte de renda. O que não impede que tenham outros meios de ter seu ganha-pão, como ainda hoje acontece. Basta ver que mesmo o Neymar ganha muitas vezes mais com propaganda do que no PSG.

Pedreiro vacila, o Pelé fuzila. Foto: Gazeta Esportiva

Amistoso valia mais na época do Pelé

Começa aí a primeira grande polêmica. Gol oficial é aquele que vale para algum campeonato, seja qual for. Em 1958 o Santos só disputou o Campeonato Paulista e o Torneio Rio-São Paulo, um total de 46 jogos. Tendo tanto tempo livre a mais os times aproveitavam para fazer excursões, que eram uma parte importante para a renda dos times daquele tempo. O hino do Panathinaikos, da Grécia coloca sua vitória contra o Santos de Pelé na sua letra. E foi em um amistoso. A excursão europeia de 1951 está no hino do Atlético Mineiro como "os campeões do gelo". De fato esses amistosos eram realmente mais valiosos para os jogadores, torcida e imprensa do que são hoje, em que são bem menos frequentes e bem menos divulgados.. O Pelé tem culpa de ter menos jogos oficiais para disputar? Não. 

Porém, todos os amistosos valia tanto? Não, claro que não. O Corinthians  venceu muitos outros torneios amistosos e até o oficial Rio-São Paulo de 1966, mas a torcida só considerou que o time saiu da fila que vinha desde 1954 quando ganhou o Paulista de 1977.  A Pequena Taça do Mundo, torneio amistoso venezuelano, nunca foi considerado um Mundial Interclubes. Então um jogo importantíssimo que fez o Santos se concentrar e pedir árbitro neutro contra o Real Madrid tem o mesmo peso que um Barcelona x Cultural Leonesa pela Copa do Rei? Talvez tenha. Mas um gol da final da Liga dos Campeões tem o mesmo peso que um amistoso entre o Santos e a Seleção B do Congo? Ou contra a Seleção Olímpica da Colômbia? Provavelmente não.

A Europa já há muito tempo se contam apenas os gols e jogos oficiais. Não significa que os gols do Pelé sejam inventados, mas é um trabalho impossível separar os gols valiosos dos sem valor. E haveria ainda margem para aberrações. Por exemplo, um gol da Seleção Olímpica contra o Santos não poderia ser contado para o Messi, pois é uma seleção de base para a Argentina, mas um do Pelé contra essa seleção é contado. Por conta disso os jogos oficiais são tão levados a sério na imprensa europeia. Tanto que a maioria das listas sequer tem os números dos jogos e gols dos jogadores em amistosos.

Média de gols por jogo em Copas. Em vermelho, as que Pelé e Messi jogaram

Muitos alegam que se tem juiz, súmula, uniformes e a partida durou 90 minutos deve ser considerada. Porém essa definição abre margem para outra aberração. Muitos do Messi antes de se profissionalizar seriam contados também. Além disso tudo há em muitos casos há gravações, algo que Pelé não tem. Foram 355 gols do Messi em de 306 jogos pelas categorias de base. O mesmo argumento não é utilizado para dizer que a Copa Rio, torneio de 51 que a torcida do Palmeiras considera um mundial deve valer mesmo como um título oficial. Afinal, houve até entrega de troféu das mãos do presidente da FIFA. Outros alegam que isso é feito só para o Pelé não ser o maior artilheiro de todos os tempos. Mas, se considerarmos os amistosos, Gerd Muller, do mesmo período o ultrapassa. E Pelé nunca foi o maior artilheiro. Bican é contando gols oficiais ou totais. COLOCAR O LINK AQUI,

Há até um argumento que poderia pesar mais contra o Pelé, mas não é utilizado. Os campeonatos como um todo valiam menos (o reverso da medalha de amistosos valerem mais). Vários times brasileiros abriram mão de disputar a Libertadores. O Santos fez isso três vezes.  Em 1977 Osvaldo Brandão, técnico do Corinthians, disse estar ansioso pra ela acabar para se focar no Paulista. O Santos não enchia os estádios na Libertadores e desperdiçou chances de vencer o Mundial, que eram completamente possíveis para aquele timaço. Consegue imaginar hoje algum time abrindo mão da Libertadores? Porém, não se fala que os jogos do Santos pela semifinal da Libertadores sequer deu 25 mil pessoas, mesmo público de América x Bangu pelo Carioca. Ou que no Mundial Interclubes de 63 Pelé não jogou dois dos três jogos em 63. Nem que segundo Almir, seu substituto, o juiz estava comprada e ele (Almir) jogou dopado. Cada um no seu contexto. Dizer que não jogou todos os jogos em 63 até valorizaria um recorde de Pelé, o de mais gols em Mundiais de Clubes, com sete. CR7 igualou, mas fez oito jogos, contra 3 do Pelé.

O ponto é, a mídia brasileira muitas vezes torce a situação para o Pelé ser o maior em tudo. Tanto que a discussão é quase sempre "quem é o segundo melhor de todos os tempos?" E mesmo em ocasiões que ele não foi tão importante  atribuem a ele um valor imenso,  como na Copa de 62. Ele saiu machucado no segundo jogo e muitas listas colocam Garrincha e Vavá como artilheiros daquela Copa, o que Pelé nunca conseguiu. Também se sobrevaloriza muito algum atributo que ele não tinha pelo lado positivo apenas. Não havia VAR. E Pelé realmente era caçado em campo. Mas ele mesmo batia muito. Procópio, do Cruzeiro, ficou cinco anos sem jogar graças ao Rei,Também foi com sua ajuda que Franz Beckenbauer, melhor jogador alemão que já houve teve seu espaço na seleção. Ele quebrou a perna de Willi Giesemann, abrindo espaço para o Kaiser, segundo matéria da Folha. Caso queira outra fonte, pode ver aqui como Pelé deu uma cotovelada em um uruguaio na semifinal da Copa de 70. Contra esse vídeo, não há argumento. Suarez, que mordeu um jogador na Copa de 2014 ficou quatro meses sem jogar pela seleção e seu clube. Quanto Pelé pegaria de gancho por isso?

Pelé quebrou minha perna covardemente, matéria da Uol. 

No tempo de Pelé se faziam mais gols

A média de gols por jogo não é mérito de um só jogador, mas de uma série de valores. Porém, é evidente que auxilia ou atrapalha um jogador. Não à toa nenhum dos maiores artilheiros de todos os tempos jogou na Itália, com exceção do Cristiano Ronaldo, que já estava bem adiantado antes de ir para lá. Os espaços diminuíram. Em média se percorria 4 quilômetros por jogo nos anos 50 e 8 nos 70. Na Copa de 2014 foi de 11. E mais rápido também, tendo média de 15 km/h, contra 12,5 dos anos 80. O esquema tático dos anos 50 era o W-M , nos 60 o 4-2-4. O número de atacantes diminuiu, a qualidade dos goleiros aumentou, porque hoje já há treinamento específico para eles desde a base. Vantagem para o Pelé. 

Dados de 2010 Foto: Istoé

A média de gols por jogo era, 3,67 no Campeonato Paulista dos anos 60, e 2,74 no campeonato espanhol dos anos 2010. Pelé fez 0,97 gols por jogo pelo Santos e 0,93 em sua carreira. Se ajustássemos para a média do Campeonato Espanhol, as médias seriam de 0,73 gols por jogo no Santos e 0,69 na carreira como um todo, contra 0,85 de Messi no Barcelona e 0,79 na carreira. Sim, se ajustássemos as médias Pelé perderia para Messi hoje. Faria no total 957 gols. Ainda muito mais que os 752 de Messi, porém o argentino ainda não se aposentou. 

E se Messi tivesse média ajustada ao tempo de Pelé?  Ele teria 912 gols. E média de 1,06 gol por jogo. Parece absurdo, mas muitos jogadores tiveram média de gol por jogo acima de um. Gerd Muller, do Bayern de Munique dos anos 60 e 70 tem 1461 gols em 1216 jogos, segundo a RSSSF, média de 1,2   (amistosos incluídos). Bican passa de um e meio, com 805 gols em 530 partidas oficiais. Peyroteo, do Sporting de Lisboa teve média de 1,62 nas décadas de 30 e 40. Nesse ponto, vantagem para Messi. Porém, as médias de gol por jogo estavam acima para todos. Nenhum outro foi tão artilheiro quanto Pelé no seu tempo. Afinal, Bican é bem mais antigo.

Garrincha dava passes e contavam gol do Coutinho como sendo dele. 
Messi só joga com Xavi e Iniesta

Alguém que realmente acredite nisso tem que odiar muito o Pelé. Ou o Edson, entende? Garrincha só jogava com ele na seleção, e de fato ajudou em vários momentos, mas se fosse assim Pelé não teria feito gols na Copa de 70. Também outros teriam tantos gols quanto ele, o que não é o caso. E Coutinho aceitaria tranquilamente ter seus gols passados na conta assim facilmente? E por que ele foi artilheiro de uma Libertadores, dois Rio-São Paulo e um brasileiro, se os gols passavam pro Pelé? Realmente se confundia muito os dois, mas os juízes tinham uma ajuda grande, a numeração da camisa, para definir quem fez o gol. E eles que assinavam a súmula após o jogo. Coutinho não jogou sequer metade dos jogos de Pelé no Santos e sequer foi titular em Copa.  

Se Messi só jogasse com Xavi e Iniesta não conseguiria ser o maior artilheiro da história da seleção argentina. Com Xavi de reserva, foi artilheiro da Liga dos Campões e melhor jogador do mundo em 2015. Foi o melhor jogador do mundo sem os dois no time em 2019 e 2021, artilheiro de dois campeonatos espanhóis e uma Liga dos Campeões, além de melhor jogador da Copa de 2014. E, é o jogador que mais deu assistência na história. Claro que ajudou jogar com os dois, mas a recíproca também é verdadeira. Porém, Villa, Ibra, Eto'o, Henry e Suarez não chegaram nem perto do sucesso do Messi no clube, mesmo com Xavi e Iniesta ajudando. Sem o Messi, os dois não teriam o sucesso que tiveram pelo Barcelona. E sem os dois Messi faria menos sucesso também. Mas ninguém carregou os outros nas costas. Assim como Pelé, que teve todos os colegas do Robertão de 68 convocados para a seleção, Messi jogou com grandes jogadores. É natural que seja assim. O treinamento e convivência torna jogadores melhores e faz o clube ganhar mais dinheiro, para pagar salários e transferências de grandes jogadores. É difícil criar e manter craques, como todo torcedor brasileiro sabe.

Pelé e Garrincha juntos jamais perderam um jogo. Foto: CBF

Com a bola pesada Messi não seria nada. Com a medicina de hoje Pelé faria três mil gols. 

A bola não era pesada só para o Pelé, mas pra todos os jogadores daquele tempo. Com mais espaço em campo Messi talvez jogasse melhor do que hoje e faria mais gols (média daquele tempo era melhor, lembra?).Hoje consegue grandes resultados mesmo com pouco espaço em campo e todos olhando o tempo todo para seu jogo para definir como defender. Porém, Messi talvez nem fosse profissional, porque não teria acesso ao programa do Barcelona que fez com que ele resolvesse seus problemas de crescimento. Talvez tivesse a contusão seríssima que ainda não teve. Os gramados naquele tempo eram realmente piores, mas para todos. E as chuteiras eram ruins, para todos também. Nunca saberemos. 

Pelé era fisicamente muito superior aos outros. Corria tanto quanto o Mirandinha ou Roberto Carlos, famosos velocistas dos anos 90. Saltava 1,80 de altura e 6,50 na distância. Na época se dizia que poderia ser um dos dez melhores do mundo no decatlo. Era muito resistente e forte. Sendo baixo (na verdade de altura mediana) ainda assim conseguia cabecear acima dos zagueiros e goleiros adversários (esses eram altos, então Pelé parecia baixo). Mas, ele talvez não fosse excepcional hoje. Ibra, Cristiano Ronaldo, Haaland e vários outros também são fisicamente espetaculares hoje. Talvez hoje perdesse seu grande diferencial físico. Sem a medicina de hoje conseguia jogar até 103 jogos em um ano (1959). Isso tendo menos conexões aéreas, piores ônibus e várias outras desvantagens. Talvez também não tivesse o mesmo resultado com os esquemas mais defensivos feitos hoje. Nunca saberemos. Poderia também ser ainda mais rápido e forte, e pular ainda melhor e fazer o Bolt parecer mais lento que a tarde de sexta feira antes das férias. Além de a média de gol por jogo estar mais baixa hoje e termos VAR. Com ele seríamos eliminados na fase de grupos da Copa de 62. Nilton Santos fez pênalti e saiu da área. O juiz aceitou e deu só falta. Pelé com uma Copa a menos não teria o mesmo prestígio. E expulso da semifinal de 70 talvez nem ganhasse uma outra Copa. 

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Pelé hoje teria vantagens e desvantagens. Messi no passado teria vantagens e desvantagens. O ponto é, grandes jogadores saber se adaptar e fazer com que rendam sempre o máximo. Porque são muito bons e inteligentes em campo. Messi começou ponta-direita, depois falso nove e hoje é ponta de lança ou meia-atacante. Cristiano Ronaldo foi um ponta driblador, depois um segundo atacante infiltrador, depois um centroavante. Pelé também se adaptou. Na Copa de 70 esteve na sua fase mais lenta e cerebral, cadenciando o jogo que tanto acelerou nos seus vinte e pouco anos. E para muitos ele foi melhor nesse período. Seria ótimos vermos como cada um se sairia no tempo do outro. 

Pelé não daria certo na Europa

O futebol europeu não era melhor que o nacional naquele período. Até 2009 a América do Sul tinha mais títulos no Mundial de Clubes que a Europa. Todos os jogadores da Seleção Brasileira jogavam aqui até a Copa de 1982, quando tivemos um titular do Roma. E o Brasil foi tricampeão, Uruguai bi e Argentina também já tinha um título naquele período. Em 1963 Pelé enfrentou no Rio-São Paulo todos os jogadores da seleção brasileira. Além de Ademir da Guia, Gérson, Carlos Alberto Torres, Julinho Botelho. Ele foi eleito melhor jogador da história da Fiorentina, vice da Liga dos Campeões de 1957 e campeão italiano em 56 e ainda em altíssimo nível. Convocado para a Copa de 58 recusou, para dar lugar a Garrincha, por achar que não deveria ser convocado jogando fora do Brasil. Pelé venceu aquele campeonato.

Nos amistosos e pela seleção também enfrentou muitos europeus. Fez cinco gols no Mundial de 62 contra o Benfica, e venceu os melhores franceses pré-Zidane e os melhores suecos da história em 58. O trio de ataque sueco fez história no Milan e ainda hoje estão entre os melhores jogadores daquele time de todos os tempos. Pelé também fez 3 gols em finais de Copa e 12 gols em 14 jogos do campeonato, além de seis assistências. Seria como dizer que Messi não daria certo na Alemanha, Itália ou Inglaterra. Não são campeonatos inferiores ao espanhol, apenas diferentes. Porém, ele enfrentou times desses países. E venceu em muitas ocasiões, inclusive com quatro Ligas dos Campeões.  Pelé daria certo na Europa? Provavelmente sim. Didi, Sócrates e Edmundo não conseguiram o que se esperava. Porém, não muda em nada o valor que eles tiveram, sendo os maiores craques de seus times e dos seus períodos. 


Messi nunca ganhou Copa do Mundo 

Yashin, Zanetti, Maldini, Baresi, Facchetti, Falcão, Zico, Cruyff, Platini, Puskas e Di Stéfano. Uma seleção de jogadores piores que Roque Júnior, Giroud, Kramer e Capdevilla, se usarmos só esse critério. Não se ganha Copa do Mundo sozinho. Por mais que se diga que Maradona conseguiu, o time tinha um ótimo técnico, atacante, sistema defensivo e goleiro. Nenhum no nível dele que teve a provável melhor Copa de um jogador. Só que ninguém fala que ele jogou mais que o Messi. Quem viu jogar garante que Messi foi melhor. Mais gols, mais constante, mais títulos, a transformação de patamar no Barcelona que Maradona não conseguiu, e até na seleção argentina sua média de gols é melhor. Se Ronaldo ganhasse em 98 seria ele e Cafu melhores que Pelé? Ronaldo ainda foi artilheiro em 2002. Cristiano Ronaldo venceu quatro mundiais de clubes e dois títulos continentais por Portugal, que nunca venceu nada sem ele. Não é melhor que Pelé só por isso, mesmo com dois mundiais a mais (de clubes). 

Em 1958 o melhor jogador foi Didi, segundo eleição da Fifa. Em 70, ele foi eleito o melhor jogador, mas Jairzinho foi nosso artilheiro. É mais fácil ganhar uma Copa com Carlos Alberto Torres, Tostão e Rivelino que com Sálvio, Bigla, Pavon e Higuain (companheiros de Messi em 2014). Algum deles seria titular na seleção brasileira de hoje? Os quatro da Copa de 70 seriam. Dizer que Pelé é superior só porque venceu três Copas é simplista. E não tem relação alguma com o total de gol que Messi fez ou deixou de fazer. Cristiano Ronaldo poderia dizer que Pelé não ganhou Liga dos Campeões nem Eurocopa, o que leva ao argumento de Pelé nunca jogou na Europa. Higuain perdeu gols incríveis em três decisões seguidas pela Argentina. O que não é culpa do Messi. Tostão provavelmente faria esses gols.  Mas o mais importante nesse ponto é, que diferença isso faz pro total de gols de cada um? Exatamente, nenhuma.

Os três gols que Higuain perdeu em finais.

Agora por que falamos mais do Messi do que do Cristiano Ronaldo? Porque geralmente se compara mais o argentino que o português, talvez pela maior rivalidade entre Brasil e Argentina. Cristiano Ronaldo teve queixas parecidas com relação ao tempo em que joga, mas não tem tantos gols documentados por categorias de base. Ainda se fala que os times jogam em função dele e até certo ponto é verdade. Mas Portugal nunca foi uma seleção de altíssimo nível, tanto que ficou fora de Copas de 70 a 82 e 90 a 98. Só com CR7 teve seu vice da Euro 2004 e o título de 2016. Sem ele não teria o mesmo sucesso e é o maior artilheiro europeu por seleções, caminhando para passar o recorde mundial. Passou Pelé, mesmo com mais jogos, e isso é incontestável. E tendo jogado em tantos países, e sendo campeão em todos, não se pode dizer que só dá certo em um contexto. Como ponta foi o maior artilheiro europeu de um ano. É o maior artilheiro da história do Real Madrid, com mais de um gol por jogo de média. Fisicamente é uma máquina, o que explica seu apelido de robozão. Nunca teve uma lesão grave e pula mais que aos 35 anos que a média dos jogadores da NBA com 22 anos. Jogaria muito bem mesmo sem a medicina esportiva de hoje e é o exemplo de profissionalismo e foco de um atleta.

No fim das contas , o que acontece é: Cristiano Ronaldo provavelmente vai ser o maior artilheiro e talvez Messi bata esse recorde depois. Mas não muda o valor deles se no passado amistosos valiam mais ou menos. Nem se o Eibar é um time ruim ou não. Porém provavelmente não terão a fama de Pelé  Ele fez um número absurdo de gols e provavelmente nenhum jogador terá o mesmo impacto que ele. Três Copas do Mundo, ser um dos nomes brasileiros mais reconhecidos, aparecer em filmes e seriados estrangeiros, a fama de ter parado uma guerra  e ter ajudado a popularizar o esporte de um modo que ninguém conseguiu antes e nem depois. E a vantagem de ser mais antigo, então suas falhas não eram vistas toda semana e havia mais onde impactar. Esportes são a única parte do jornal em que boas notícias vendem mais do que as ruins. Cada um teve suas dificuldades e meios de lidar com elas. Além disso, não são só os gols que definem o valor de um jogador de futebol. Pelé era completo, jogava bem com as duas pernas, batia faltas e fazia lançamentos e se necessário era um bom marcador. Messi revolucionou o futebol sendo um dos grandes responsáveis pelo Tiki-Taka e por um dos melhores times que já houve, o Barcelona de 2009. Ressuscitou o falso nove. é recordista de assistências no Campeonato Espanhol e pode jogar até como volante. Cristiano Ronaldo pegou Portugal em um nível e entregou em outro e deu um grande exemplo de como alguém com trabalho duro consegue o que deseja. Além de ter sido de altíssimo nível em todas as posições do ataque e um dos que mais resolve com menos toques na bola. A ideia desse artigo não foi dizer quem é melhor ou pior, mas contextualizar cada número deles. Afinal, sem contexto algum uma marca de tinta pode ser um quadro, uma pintura de cabelo, uma mancha na parede e por aí vai. Espero que tenham gostado.

Higuain jogando fora as Taças que Messi poderia vencer.

PS: Havia de fato uma guerra quando o Santos foi jogar na Nigéria, mas a região estava sob controle e a guerra continuou em uma região mais distante. O que faz mais sentido, afinal para que contratar uma equipe cara para fazer um jogo que pode não acontecer? Seria anunciar publicamente que estão perdendo a guerra. O jogo também foi usado como propaganda de como eles eram mais ricos, organizados e melhores de morar do que a Biafra, região separatista. Também foi anunciado que a guerra parada foi entre os Congos, algo que nunca ocorreu. 

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