Seleção de 70. Assistindo a final nos dias de hoje


Para muitos, a melhor equipe de futebol que já houve, vencendo todos os jogos da Copa do Mundo. A seleção de 70 venceu também todos os jogos das Eliminatórias, o que foi o único caso até hoje. O futebol mudou muito de 1970 para cá? Como foi o jogo?

A mudança de jogo é brutal. A velocidade e marcação são completamente diferentes. Os espaços fornecidos eram muito maiores e a marcação só ficava mais forte já próximo à intermediária. Os jogadores não eram tão mais lentos, mas o jogo era menos vertical do que o de hoje, especialmente comparado ao jogo europeu atual. Os laterais atacavam muito menos e muitos jogadores não voltavam para marcar. A mudança de posicionamento era muito mais rara. A distância percorrida por jogador era de 8 quilômetros, contra 13 de Copa de 2010, com 12,5 km/h de média, contra 15. Pode ver o jogo clicando aqui, para o primeiro tempo e aqui para o segundo tempo.

Escalação. Facchetti porém estava muito mais adiantado, na linha do meio campo,
enquanto Mazzola era um ponta de lança.
    Fonte da imagem:Wikipedia

O time brasileiro não esteve em perigo em momento algum do jogo. Começou atacando e já fez um gol aos 18 minutos , com Pelé. O lançamento para ele foi em altíssimo nível, de Gérson. Apesar de Pelé ter feito esse gol numa cabeçada firme e com um bom pulo além de uma assistência para o quarto gol, não teve uma partida em bom nível pois não teve grandes participações além dessas. Errou muitos passes e pouco se apresentou para tabelas. Mais uma demonstração de como se apaga um jogo ruim por conta de gols. Gérson, que fez um gol e deu passe para outro em um lançamento de 50 metros, teve uma partida de nível maior, marcando muito bem, indo de uma área à outra e mostrando como tinha excelente passe e visão de jogo. Jogou como um regista em uma posição rara, à frente de outro volante, o que o fez dele um meia armador. 

A defesa realmente era de nível mais baixo do que o ataque.  Clodoaldo errou um passe, seu único erro da copa, e os italianos aproveitaram para fazer seu gol aos 37 minutos do primeiro tempo. Outras chances italianas foram criadas por falhas na defesa. Algo que ajudou muito aquela seleção foi o bom preparo físico, o que fez com que 12 dos 19 gols da Copa fossem feitos no segundo tempo. O gol de Gérson, aos 21 minutos do segundo tempo foi um chute de fora da área. Jairzinho fez o terceiro cinco minutos depois e demonstrou porque tantas pessoas acreditam que ele jogou mais do que Pelé na Copa, com grande velocidade e movimentação raras para um ponta direita, além de um excelente oportunismo. Tostão também mostrou sua inteligência tática, bons passes,  movimentação e posicionamento. Um exemplo de falso nove, apesar de não ser o primeiro da história.

Como o Brasil jogava em 70       Fonte da imagem: Preleção 

Carlos Alberto Torres foi muito mais para o ataque do que Everaldo, mas isso foi intencional. Jairzinho teve que auxiliar  na marcação por conta do lateral esquerdo italiano, Facchetti, ser muito mais ofensivo, já que o jogo era torto no esquema tático da Itália. O quarto gol da seleção, de Carlos Alberto, é constantemente considerado o maior exemplo de um gol de equipe, pois oito jogadores trocaram passes até seu chute, sendo que Clodoaldo foi o único a ter que utilizar o drible. Ele talvez seja o mais subestimado, pois tinha grande habilidade, fôlego e capacidade tanto de marcação quanto criação. Foi dito que Mazolla e Rivera não jogarem juntos é uma grande falha do técnico italiano. Porém, ainda assim o Brasil era imbatível nesse dia.

Como o Brasil jogava, 4-3-3,4-2-4,4-2-3-1? Isso e todos? Dependia do momento. Sim, Zagallo já foi vanguarda.  A defesa jogou no esquema padrão atual. Clodoaldo e Gérson claramente eram volante (box-to-box) e meia. Pelé era ponta de lança, na época considerado atacante, hoje visto como meia. Jairzinho era um ponta direita e Tostão falso nove. Porém, na época era visto como um centroavante. Rivelino era um meia esquerda que avançava ou ponta que voltava para marcar? Para aquele tempo era um 4-3-3 que se transformava em 4-2-4, o mesmo esquema tático de 62, pois Rivelino, que era ponta de lança em seu time, jogou mais deslocado para a esquerda e se tornava meia esquerda na maior parte do jogo, mas ponta no ataque. Para os dias atuais seria um 4-2-3-1, com Tostão como falso nove. Mais sobre as posições no ataque aqui e no meio campo aqui.

A seleção antes da Copa foi muito criticada, tanto que Saldanha foi demitido. Não por ser comunista no período da ditadura, mas por perder pro Atlético Mineiro e empatar com o Bangu. Sim, esses jogos realmente aconteceram. A opinião geral era que Edu deveria ser o titular no lugar do Rivelino e que deveríamos ter deixado Tostão ou Pelé na reserva. Félix era um bom goleiro, mas não espetacular. Manga, excelente goleiro que esteve em 66, jogava no Uruguai naquele ano. Talvez fosse uma escolha melhor. Porém era um tempo em que não se convocavam jogadores fora do Brasil. Djalma Dias, Rildo e Dirceu Lopes foram outros jogadores que muitos acreditam que poderiam ter ido. 

O que fez toda a diferença foi o tempo de preparação para a Copa. O Brasil foi o primeiro time a chegar no México e teve toda a aclimação para a altitude. Conseguiu entrosar toda a seleção muito bem em campo e teve acesso a dados científicos que na época eram novidades. A alimentação foi bem planejada e a comissão técnica era muito bem capacitada. Hoje isso tudo é costume, mas em 1970 não. Foram quatro meses de preparação. Algo impensável hoje, com tantos países fornecendo nosso pé-de-obra. Além dessa questão, hoje as eliminatórias sul-americanas para a Copa tem 18 jogos. Provavelmente nunca mais teremos uma seleção vencendo todos os jogos da Copa e das Eliminatórias. Quem chegou mais perto foi a Holanda de 2010, que perdeu justamente a final para a Espanha. Talvez um dia um europeu iguale o recorde brasileiro. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Posições e funções no futebol; Parte três

Por que camisas de time são tão caras

Melhores que nunca jogaram Copa: Os que seriam craques nas duas Copas que não aconteceram