O primeiro São Paulo campeão. Quando a moedinha caiu em pé.


Entre 1926 e 1942 Palmeiras e Corinthians dividiram os títulos do Campeonato Paulista. Perderam apenas em 1931, para um clube já extinto e em 1935 o Santos foi campeão paulista, mas ainda era visto como um time pequeno. Em 1943 os dirigentes disseram que para definir o campeão era só jogar a moedinha pra cima. Se fosse coroa, Palmeiras campeão. Cara, Corinthians. E o São Paulo? Só se a moedinha caísse em pé.
 
                                       

Em 1930 o Paulistano era o maior clube do estado. Dono de onze títulos, ainda hoje é o quinto maior vencedor do estado. Teve mais jogadores convocados para a seleção que Athtletico e Sport Recife. Além do ponto de não disputar jogos oficiais há 90 anos, a Seleção Brasileira é de 1914. O AA das Palmeiras, três vezes campeão paulista se fundiu ao Paulistano e deu origem ao São Paulo Futebol Clube, chamado de São Paulo da Floresta. Em maio de 1935 o clube se fundiu com o Clube de Regatas Tietê e o departamento de futebol foi descontinuado. Seus jogadores foram espalhados. Em dezembro do mesmo ano, o clube foi refeito com o mesmo nome, mas sem o apelido da Floresta, porque perdeu o estádio da Floresta. Se eram o mesmo clube ou outro foi algo discutido por décadas e apenas recentemente foi definido como sendo. Porém, em 1943 era visto como uma nova equipe. Aquele grande time, com a fusão de 14 campeões paulistas, não existia mais. O São Paulo era encarado como um time novo e sem tradição. 

O Palmeiras tinha grandes nomes. Oberdan Cattani, Junqueira e Waldemar Fiúme ganharam até estátua no Parque Antártica. Também havia Lima, da seleção brasileira. Já no Corinthians havia Teleco, com média de mais de um gol por jogo. Além de Servílio e Brandão, titulares da Seleção no Sul-Americano(atual Copa América) de 42. O São Paulo não ficava atrás. Tinha Noronha, que jogou a Copa de 50. Zezé Procópio, também titular do Sul Americano. Waldemar de Brito, titular da Copa de 34. Luizinho, que já havia jogado as Copas de 34 e 38. Mas os que fizeram mais diferença foram Sastre e Leônidas.

O time campeão de 1943

Até a década de 40 o futebol brasileiro era muito atrasado em relação ao argentino. Nas disputas da Copa Roca (atual Superclássico das Américas) o que mais se via eram goleadas argentinas. Toda grande equipe brasileira buscava seu craque argentino. O São Paulo conseguiu Sastre. Contratado já com 32 anos, a torcida já o apelidou de DeSastre. Mas demorou pouco para mostrar seu valor. Um craque cerebral, que jogava em várias posições. Era para um posterior colega de time, uma mistura de Gerson, Rivelino e Clodoaldo. Ninguém sabia o que ele iria fazer, porque era habilidoso, de ótimo passe e de grande beleza de jogo. Podia ser meia, volante, ala e atacante. 

Já Leônidas da Silva foi o artilheiro e melhor jogador da Copa do Mundo de 38. Quem viu garante que não era pior que Pelé. Foi o primeiro a ter o apelido licenciado e ganhar um bom dinheiro com propagandas. Ele era o Diamante Negro, ainda hoje um chocolate famoso. É quem tem a melhor média de gols por jogo na seleção, com 37 jogos e 37 gols, entre aqueles com mais de quinze jogos. Não inventou a bicicleta, mas com certeza foi quem popularizou e ganhou o apelido de homem-borracha, pela habilidade extraordinária que tinha em fazer jogadas que pareciam impossíveis. 


Leônidas dando bicicleta, já pelo São Paulo
Imagem do Globo Esporte

Leônidas tinha o hábito de faltar em amistosos e era mais frequente em propagandas do que em treinos. Em 41 foi foi preso por usar um certificado de reservista falso.Juntando com a sua idade considerada avançada (28 anos) o Flamengo preferiu vender por 200 contos de réis ao São Paulo. Sua estreia ainda hoje é o maior público do Pacaembu, com mais de 70 mil pagantes. Também chegou com desconfiança. Era chamado de bonde de 200 contos, já que bonde era o apelido dos maus negócios. Mas fez 142 gols pelo time, exatamente o mesmo que fez antes pelo Flamengo. Jogou de 42 a 50 pelo São Paulo, que foi o clube que venceu mais campeonatos na década.

Na campanha do estadual, apenas duas derrotas, uma para o Ypiranga na segunda rodada e uma para o Corinthians. Disputado em turno e returno, todos contra todos, o São Paulo fez 33 pontos, contra 32 do Corinthians e 31 do Palmeiras. O último jogo foi contra o Palmeiras. Se o Palmeiras vencesse, o Trio de Ferro teria a mesma pontuação e jogos desempate aconteceriam. Sastre se machucou logo aos seis minutos, mas continuou mesmo assim, porque não eram permitidas substituições naquela época. Houve muitos que pensaram que o São Paulo entregaria o jogo para ter a renda dos jogos-desempate, mas não deu chance para o azar e terminou logo o campeonato. Aquele grande time depois teria Rui,Teixeirinha, Mauro Ramos e Bauer e conquistaria os paulistas de 45,46,48 e 49. Mas tudo começou quando a moedinha caiu em pé.

Moeda comemorativa do clube. Imagem do site SPFC.

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