Os centroavantes estão valendo menos hoje?

Fred ganhou o apelido de Cone na Copa de 2014. Já o Skank dizia que o centroavante é o mais importante em Uma Partida de Futebol, do Skank. O valor deles caiu tanto assim em vinte anos?


Primeiramente temos que definir quem é o centroavante. A princípio é o atacante que fica no meio. Em táticas como 4-3-3 e 4-2-3-1 é fácil identificar assim. Mas e em 4-4-2? Nesse caso é o jogador mais avançado. Entre os dez mais valiosos da lista do Transfermarket, apenas um centroavante. Harry Kane. Os jogadores de lado de campo, como Neymar e Mbappé são melhores avaliados. Além de Messi, de muito mais movimentação. O próximo centroavente na lista é Haaland, na 21ª posição. O centroavante clássico tem o objetivo de fazer gols e apenas isso. Dar assistências, atrapalhar a reposição de bola do goleiro adversário e auxiliar na marcação são brindes. Se fizer tudo isso e não marcar, não fez seu papel. Esse jogador realmente está menos comum e não é à toa.

Nos anos 2000 Romário estava no final de carreira e se tornou o jogador de posicionamento. Com um ou dois toques fazia um gol e sumia no restante da partida. Uma piada comum na época era que ele entrava em jogo, ia pras arquibancadas e voltava só pra marcar o gol. Ótimo para ele, que se tornou o segundo jogador que marcou mais gols até hoje e esticou sua carreira. Mas muitos comentaristas acreditam que não conseguiria jogar hoje apenas com o posicionamento. Os jogadores percorrem uma distância 60% maior em um jogo e com 20% mais velocidade do que quando Romário foi para as categorias de base. Um jogador como Fred e Serginho Chulapa são vistos como um a menos em boa parte do jogo. Os goleiros já são obrigados a jogar mais com os pés , a ponto de Kasper Schmeichell ter feito quatro assistências em um campeonato inglês e Ederson bater recordes de passes em um jogo. Que time hoje pode ter um jogador a menos para ficar esperando a hora certa de agir?

Mapas de calor. Fonte: Sofascore, exceto Fred, do Globo Esporte

Lewandowski é o centroavante clássico de mais sucesso recente, mas ainda tem uma movimentação muito maior que Fred. Os mais valiosos Harry Kane e Haaland são centroavantes clássicos? Não. Haaland tem movimentação próxima a de um falso nove. Já Kane não é a todo momento a referência do ataque, abrindo o jogo pelos lados e tendo movimentação próxima a de um segundo atacante. Os mapas de calor deixam isso bem evidente. 

No Brasil, nossa referência na seleção ser um centroavante não acontece desde Ronaldo, ainda na década de 90. A equipe do Penta foi construída em torno de Rivaldo, não do Fenômeno. Depois tivemos Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Neymar, nenhum centroavante. O auge de  Adriano durou pouco e não era o grande jogador do quadrado mágico. O Barcelona de Guardiola não tinha centroavante clássico. Teve Ibraihmovic e Eto'o, centroavantes mais móveis(pivôs) mas não deram o resultado esperado.  Nem as Franças campeã da Copa de 98 ou da Eurocopa de 2000. O que possuíam era um atacante pivô, algo diferente. Então os clássicos deixaram de surgir. O trombador, que tem pouca habilidade e joga por apenas uma bola tende a acabar. Ou se lembra de algum novo Dadá Maravilha? Mas aqueles que são como Ronaldo, fortes, rápidos, de drible curto e habilidade, sempre terão espaço. Ele tinha um posicionamento semelhante ao de Harry Kane, dando jogando como a referencia do ataque quanto saindo para armar jogadas e deixar outros infiltrarem. Tanto que ainda surgem novos, como Haaland e Kane. Mas sim, estão valendo menos do que na década de 90.


Há uma tendência muito forte a se queixar do fim de algo, como se esperássemos que algo fosse eternamente igual. Houve queixas quando o cinema deixou de ser mudo. Não deixe o samba morrer é o maior sucesso da Alcione, mesmo ela tendo um samba completamente diferente de Pelo Telefone, mais próximo ao maxixe. O futebol também passa por constantes evoluções e o falso nove é a mais recente entre os centroavantes. O que virá depois? Talvez a volta do clássico. Lewandowski venceu o prêmio de melhor do mundo. Cristiano Ronaldo deixou de ser o ponta driblador para segundo atacante e finalmente centroavante. E mesmo com 35 anos ainda é um daqueles que fazem mais diferença nos seus times. O falso nove já foi bem usado em outras Copas, como na Laranja Mecânica, Hungria de 54 e Brasil de 70m até voltar a moda após o Barcelona de 2009 com Messi. Ou talvez tenhamos ataques com dois segundos atacantes, como o do São Paulo de Telê, que tinha Cafu e Muller no Mundial de 92.  O Tottenham atual, com Son e Kane se encaminha para isso. 

Imagens do Fred: www.humoresportivo.com.br

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